Durante o ano passado, todos os centros de aprendizagem do sistema de educação finlandês suprimiram distintas disciplinas e instauraram um método de aprendizagem conhecido como aprendizagem por fenômenos (em inglês: Phenomenon-based Learning ou PhenoBL). Este método supõem um trabalho colaborativo e empírico entre alunos e professores graças a uma ação que pode ser considerada um passo em frente em termos de inovação aplicada à gestão de projetos interdisciplinares no âmbito da educação.
Embora que o método referido face parte de um paradigma mais genérico que conta com mais de meio século de existência, o Project-Based Learning ou aprendizagem baseada em projetos, a sua adoção como política educativa à escala nacional é inovadora e baseada no diagnóstico de que “os resultados mais importantes e influentes atualmente são fruto de cooperação e redes”, motivo pela qual a aprendizagem baseada no exame individual do conhecimento estático tem perdido grande parte do seu valor.
Como se aprende nas escolas a importância de projetos?
Em comparação com os programas de memorização passiva, a Aprendizagem Baseada em Projetos envolve as crianças em atividades abertas definidas enquanto projetos. O ponto de partida pode ser uma questão ou um problema que os alunos tentam solucionar de forma proativa para encontrar respostas que acrescentem um conhecimento teórico da realidade apenas através de uma perspectiva de transformação. Esta abordagem popularizada nos Estados Unidos por grandes reformadores da pedagogia como John Dewey, reconhece que o modelo tradicional da escola obrigatória, era baseado em educar através da obediência. Muitos dos estudantes que eram socializados em grupos nos quais deviam aprender a estar quietos durante o horário de 8h teriam assim uma transição mais simples para o trabalho como operários industriais.
Um modelo caduco, pois como todos sabem, os operários e a mão de obra estão desaparecendo nos países pós-industriais, sendo substituídos pela procura de trabalhadores do setor terciário capazes de encontrar novas soluções e de se adaptar a situações aleatórias.
Enquanto que a velha escola preparava a obediência, a memorização e a repetição, a educação baseada em projetos implica trabalho em equipe, atividade física, pensamento crítico e avaliação dos recursos disponíveis para resolver um problema. Não menos importante é a promoção da responsabilidade da pessoa e dos resultados. Noutras palavras, o paradigma tenta pôr os alunos no papel de investigadores, enquanto que os professores deixam o ensino por autoridade para um ensino que passa a facilitar um processo de experiencia direta
Alunos investigadores
Dentro da Aprendizagem Baseada em Projetos, os alunos participam ativamente na sua educação. Concretamente, podem escolher um tema que gostariam de aprender, planificar o desenvolvimento da aprendizagem junto com professores e finalmente avaliar o seu progresso.
Professores mentores
Por outro lado, este paradigma implica importantes alterações na profissão de professor. Noutras palavras, perdem o controle que estavam habituados a ter sobre as suas aulas e o trabalho deixa de estar baseado em classes magistrais, sendo mais parecido com a atividade de acompanhamento de um mentor.
O caso finlandês
As escolas finlandesas têm a obrigação de contar nos seus programas pedagógicos para crianças entre 7 e 16 anos com pelos menos um período prolongado de Aprendizagem Baseada em Fenômenos. Em vez de ensinar matérias de forma isolada, como a matemática, as ciências naturais ou história, confrontam-se temas multidisciplinares como as alterações climáticas ou questões sociais, utilizando igualmente recursos pertencentes a uma variedade de disciplinas
A nova função do educador será de interiorizar as seguintes condições positivas:
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Para aumentar a curiosidade, permitir que façam perguntas
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Para desenvolver a capacidade de resolver problemas, comunicar o conhecimento escolar com problemas reais e estimular os alunos para que tentem procurar soluções em grupo
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Para melhorar a compreensão, combinar conhecimento e competências de diferentes matérias
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Para formar cidadãos que desenvolvam a sociedade, promover a exclusividade e participação, facilitando o pensamento crítico positivo e oferecendo oportunidades para permitir uma mudança concreta.
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Para reforçar a confiança que têm em si mesmos ou a sua vontade de aprender, fazer comentários construtivos e honestos. Nunca humilhar ou desmotivar alguém que está aprendendo.
Obviamente, muitos de estes princípios têm consequências positivas para organizações profissionais e para uma cultura de inovação aberta. A atenção a equipas multidisciplinares e o estimulo da criatividade dos membros da equipa são, ao longo do tempo, a inspiração de este modelo educativo e o resultado do mesmo.
Na Finlândia, os professores têm como suporte plataformas online cujo o objetivo é de incitar conversas entre estudantes sobre temas e conceitos que gostariam de aprender ou aprofundar no fenômeno em questão.
Um dos principais benefícios da aprendizagem por fenômenos é a percepção de um problema sobre diferentes pontos de vista. Ainda que o estudante conheça a distinção entre diferentes disciplinas, aprende que é possível considerar um fenômeno sobre pontos de vista diferentes e complementários. A soma das partes permite oferecer uma compreensão mais completa da realidade. Da mesma maneira em que não existe uma única maneira para analisar um fenômeno, também não há uma maneira única para o elaborar, cada aluno pode evoluir à sua maneira, combinando descobrimento, aprendizagem e criação.
Outros benefícios que costumam também ser avançados são:
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A emoção causada pela resolução de um problema ou por juntar as peças de uma ideia como num puzzle, facilita a integração do conhecimento. Aprender (ou trabalhar) não deveria ser aborrecido: deveria ser emocionante!
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A resolução de problemas durante a aula proporciona às crianças confiança para escolherem no futuro carreiras que incluam capacidade de raciocínio e tomada de decisões.
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A capacidade de reunir as peças para compreender o mundo no seu todo será o que fará crescer os estudantes como cidadão informados e produtivos.
Não é uma simples tendência, mas um método pedagógico de futuro
Certas vozes um pouco mais críticas avisam que o método de aprendizagem por projetos implica a abolição de matérias e disciplinas tal como as conhecemos atualmente. E com elas, uma bagagem cultural partilhada (teoricamente) por todos os cidadãos. Assim, dependendo do tipo de projetos que se realizem, os estudantes podem guardar importantes lacunas em todas as áreas de conhecimento consideradas essenciais: desde a trigonometria ao funcionamento das marés por exemplo, e obviamente a história e cultura do seu país. No entanto, o Conselho Nacional de Educação Finlandês tem sublinhado a repetidas ocasiões que as classes tradicionais não desaparecerão do país. Justamente, pelo contrário, este método de educação continua convivendo com matérias tradicionais
Apesar de tudo, a realidade é que o método continua a ganhar em popularidade. Em Espanha por exemplo, existe já um modelo similar ao finlandês e que tem um nome parecido: Aprendizagem por Projetos. Na verdade, estes métodos são utilizados pelas escolas jesuítas de Catalunha onde estudam mais de 13 mil alunos que durante os últimos viram o número de disciplinas serem reduzido assim como exames e horários, que foram transformados em trabalhos dirigidos onde as crianças adquirem conhecimentos através da gestão de projetos. Concretamente, o modelo chamado “Horizonte 2020” mostra que este e outros similares não são uma simples tendência, mas verdadeiramente um método pedagógico com futuro.